Recentemente o magnata Warren Buffett fez um ataque ainda mais agressivo às criptomoedas, causando revolta na comunidade. Segundo o CEO da Berkshire Hathaway, Bitcoin é “provavelmente veneno de rato ao quadrado”. Concluiu que Bitcoin não é um investimento e que criptomoedas quase certamente acabarão mal. Anos antes, já tinha falado “é basicamente uma miragem”. Como o terceiro homem mais rico do mundo, um dos maiores especialistas em investimentos do mundo pode falar algo assim?
“Nosso período favorito para segurar [o investimento] é sempre.”
Nascido um ano depois da grande recessão, Warren Edward Buffett aos 24 foi contratado por Benjamin Graham, de quem aprendeu boa parte dos conhecimentos que aplica hoje. Esses conhecimentos estão hoje reunidos no livro O Investidor Inteligente, de Graham.
Graham e, consequentemente, Buffett não acreditam na possibilidade de previsão eficiente do mercado, não acreditam em trades ou em análise técnica. A estratégia de investimentos afinal é bem simples e foi traduzida nesta alegoria criada por Graham:
Imagine que você é um dos donos de uma empresa junto com seu sócio Sr. Mercado. O Sr. Mercado é maníaco-depressivo e frequentemente oferece vender as ações dele para você ou comprar a sua parte da empresa. Entretanto, conforme o humor do Sr. Mercado varia entre extremamente pessimista e incrivelmente otimista, os preços que ele te oferece para comprar ou vender variam de acordo. O leitor sempre pode rejeitar a proposta, já que logo logo ele vai fazer uma nova, completamente diferente.
“Preço é o que você paga, valor é o que você recebe.”
Segundo Graham, uma pessoa racional vai comprar quando o preço está baixo e vender quando o preço está alto, não porque o preço desceu ou subiu. Ou seja, o importante é saber qual o valor da sua empresa, que pode ser calculado através da análise fundamentalista. E nas bases da filosofia de investimentos de Graham e Buffett, está a ideia de que o dinheiro que você está investindo rende por causa do trabalho. Tanto quando se investe numa debênture ou quando se investe numa ação, a empresa vai ter que trabalhar para te pagar um cupom ou dividendo.
Isso é completamente diferente do que acontece com ouro, alguma commodity, alguma moeda ou alguma criptomoeda. Nem ouro nem bitcoin vai te pagar dividendos ou juros, sua única expectativa é que mais para frente uma pessoa compre mais caro de você. Não é uma empresa com gente trabalhando para você.
“Nunca invista em um negócio que não entende.”
Se olhar o portfólio histórico da Berkshire Hathaway, verá que bem mais da metade dos investimentos são sempre empresas grandes e conhecidas. Olhando minuciosamente, percebe-se que todas são de produtos palpáveis ou financeiros. Coca-Cola, Walmart, Gillette, Wells Fargo, American Express, Tesco… As únicas empresas mais voltadas para tecnologia é a International Business Machines Corp, famosa IBM, que entrou em seu portfólio em 2011, cem anos depois de sua fundação, e a Apple, que entrou em 2016. No início deste mês de maio, o oráculo de Omaha vendeu o que tinha de IBM para comprar mais Apple.
Então fica claro que, além de ir contra a filosofia de investimentos de Buffett, ele também não investe ou recomenda por não entender, assim como não entendeu o modelo de negócios do Google e do Amazon há anos atrás. Segundo Buffett, não entender o modelo de negócios de empresas de tecnologia o fez se distanciar delas. Afinal, o cheque não é mais valioso que dinheiro por ser uma outra forma de pagamento, como afirmou em 2014.
Além disso, existe um claro conflito de interesses, já que é um ávido investidor de grandes bancos e outras empresas financeiras e de pagamentos. Quem gostaria de ver seu banco perder dinheiro para uma moeda que não tem nenhuma empresa por trás para investir?
“Diversificação é a proteção contra a ignorância. Isso faz muito pouco sentido para aqueles que sabem o que estão fazendo”
Em resumo, não podemos culpar o Buffett. Se hoje, para alguém dedicado é difícil aprender e acompanhar as mais de 1500 criptomoedas existentes, imagine para um senhor de quase 90 anos com uma filosofia de investimentos de sucesso. Seu foco é em empresas, não em moedas ou commodities; é em produtos palpáveis, não tecnologia.
“Se eu pudesse comprar uma opção de venda com vencimento daqui a 5 anos em cada uma destas criptomoedas, ficaria feliz em fazê-lo, mas nunca operaria vendido nenhum centavo.”, disse Buffett em relação ao bitcoin.
Diferente de Bill Gates, que pronunciou que faria um short de bitcoin “se houvesse como” (sem saber que existe, sim, maneiras de operar vendido), Buffett deixou claro que nunca faria uma operação vendida de criptomoeda apesar de não acreditar no crescimento.
Buffett pode não entender o modelo, não entender a tecnologia, mas entende bastante de controle de risco e do mercado financeiro para saber que se operar vendido num mercado que pode ter uma alta monumental inesperada, até ele pode quebrar.
OBS: todos as citações são do Buffett.
Originalmente publicado no Portal do Bitcoin em 30 de maio 2018.